.
Uma das grandes deficiências de muitos crentes e principalmente
pregadores é a falta do conhecimento das regras da Hermenêutica Bíblica
para a pregação da Palavra. Com isso é comum ouvirmos determinados
absurdos, que, muitas vezes, acabam causando enormes contradições
doutrinárias e até mesmo as famosas “heresias de púlpito”.
A hermenêutica que aqui me refiro é a ciência que estabelece os
princípios, leis e métodos de interpretação. As pessoas pensam que basta
apenas ler a Bíblia e o Espírito Santo faz o restante. Sim, é claro que
o Espírito Santo age no momento em que lemos a Bíblia. Ele nos dá a
iluminação dos textos, mas o Espírito acaba encontrando limites para
atuar de forma mais abrangente, pois encontra na vida de muitos cristãos
o comodismo na busca do crescimento no conhecimento da Bíblia, entre
eles a forma correta de interpretar as Sagradas Escrituras.
Na sua origem e raiz encontramos três tipos de hermenêutica que nasceram
da tradição de leitura e interpretação de diferentes corpos textuais:
Hermenêutica jurídica, filológica e teológica. A abrangência da
disciplina alcança diferentes escalas, mas em todas as abordagens a
hermenêutica possui as mesmas características de ação.
1. A Hermenêutica Jurídica
O Dr. Paulo Fernandes Trindade define a Hermenêutica Jurídica como “a técnica específica que visa compreender a aplicabilidade de um texto legal”.
A Hermenêutica Jurídica possui também alguns métodos de aplicação. Na
verdade, são regras técnicas que visam à obtenção de um resultado. Com
elas procuram-se orientações para os problemas de decidibilidade dos
conflitos.
2. Hermenêutica Filológica
Do grego antigo, “amor ao estudo, á instrução”. É a ciência que
estuda uma língua, literatura, cultura ou civilização sob uma visão
Histórica, a partir de documentos escritos.
A hermenêutica filológica é responsável por fazer o leitor entender a
literatura em sua mais ampla visão. Nesta visão estão os mistérios das
diversas culturas, de uma língua e todo um revestimento histórico.
Com isso precisamos entender que não basta apenas ler um livro
histórico, fazer uma leitura viajante sem interpretar a História. Essa
interpretação filológica é feita pelo ponto de vista crítico e
investigativo, encontrando seus valores, ensinos, particularidades e
questões gerais.
3. Hermenêutica Teológica
A Hermenêutica Teológica que tem no seu cerne a texto bíblico deixa
claro em que medida o texto original deve ser tratado com uma especial
atenção. É a disciplina da Teologia Exegética que não só ensina as
regras de interpretação, mas também a maneira de aplicá-las
corretamente. É a ferramenta que aborda com profundidade os textos
sagrados nos seus preciosos capítulos e versículos.
O termo Hermenêutica procede do verbo grego hermeneuein, usualmente traduzido por “interpretar”, e do substantivo hermeneia que significa “interpretação”. Tanto o verbo quanto o substantivo podem significar “traduzir, tradução”.
O que é então Exegese?
Exegese é o estudo cuidadoso e sistemático de um texto para comentários,
visando o esclarecimento ou interpretação do mesmo. É o estudo
objetivando subsidiar o passo da interpretação do método analítico da
hermenêutica. Este estudo é desenvolvido sob as indagações de um
contexto histórico e literário. Sendo assim, a hermenêutica é a
ferramenta de interpretação e a exegese, a maneira como usar essa
ferramenta.
A palavra Exegese, do grego eksegesis, cujo significado é “explicar, interpretar, contar, descrever, relatar”. Significa, segundo o contexto, narrativa, explicação, interpretação.
O termo é formado pela aposição do final “isis”, expressivo de ação, ao tema verbal composto, ek+hegeomai, cujo significado é “tiro, extraio, conduzo fora”. A exegese é, pois, a extração dos pensamentos que assistiam ao escritor ao redigir determinado documento.
A Exegese refere-se a idéia de que o interprete está derivando o seu
entendimento do texto, em vez de incutir no texto o seu entendimento.
Teologicamente a exegese utiliza-se de modos formais de explicação, que
são aplicados a passagens bíblicas.
Por isso, o termo exegese significa, como interpretação, revelar o
sentido de algo ligado ao mundo do humano, mas a prática se orientou no
sentido de reservar a palavra para a interpretação dos textos bíblicos.
Exegese, portanto, é a denominação que se confere à interpretação das
Sagradas Escrituras desde o século II da Era Cristã. Orígenes, cristão
egípcio que escreveu nada menos que 600 obras, defendia a interpretação
alegórica dos textos sagrados, afirmando que estes traziam, nas
entrelinhas de uma clareza aparente, um sentido mais profundo.
O inimigo da Exegese: A Eisegese
Enquanto a exegese consiste em extrair o significado de um texto
qualquer, mediante legítimos métodos de interpretação, a Eisegese
consiste em injetar em um texto, alguma coisa que o intérprete quer que
esteja ali, mas que na verdade não faz parte do mesmo. Sendo assim, a
eisegese consiste em manipular o texto para dizer o que ele não diz.
Jamais confunda Exegese com Eisegese.
Existem de fato três tipos de argumentos quanto a interpretação bíblica,
que podem revelar a presença da eisegese: Argumento bíblico, extra
bíblico e antibíblico.
O Argumento bíblico surge quando se considera o que realmente está
escrito, ou seja, a interpretação é baseada justamente no que está
registrado, sem acréscimo ou extração. Como exemplo podemos usar a
passagem de Mateus 14. 25 onde registra “Jesus andando sobre o Mar”.
O argumento bíblico é aquele que afirma que Jesus não correu sobre o
mar, bem menos que ele se arrastou sobre o mar, mas conforme está
escrito “andou”. Não encontramos aqui nenhuma possibilidade para a
influência da eisegese.
O Argumento extra bíblico por sua vez trabalhará com uma interpretação
dentro de uma lógica ou análise correta cujo resultado não afetará o
texto. É aquilo que não está escrito, mas que também está coerente com o
que está registrado. Vamos usar o mesmo exemplo. O pregador poderia
dizer “Jesus andou sobre o mar e o vento balançava suas vestes”.
Se considerado o argumento bíblico essa frase está totalmente errada,
pois o texto não diz que o vento balançava as vestes do Mestre. Mas
usando a lógica na interpretação veremos que em auto-mar é comum o agir
do vento, principalmente em meio a uma tempestade, como detalha o
versículo anterior: “o vento era contrário” (v. 24). O grande
problema é que a maioria dos pregadores, buscando usar um argumento
extra-bíblico, acabam enredando para as incansáveis conjecturas e
causando grande contradição com Verdades doutrinárias e até mesmo
criando heresias. Isto é, uma falta de cuidado criará a eisegese, no
lugar da exegese.
Argumento Antibíblico, como o nome já diz, se trata de uma argumentação
que fere a doutrina bíblica e os fundamentos da Palavra. Usando o mesmo
texto ficaria assim: “Jesus andou sobre ao mar e quase que afundou”.
Talvez não veríamos problema algum em entender que Jesus poderia ter
quase afundado visto que o mar estava muito agitado. Seria até uma
tentativa extra bíblica. Mas a grande verdade é que, se Jesus quase
afundou isso significa que ele não teve tanto poder assim para andar
sobre o mar. E se ele não teve poder suficiente para andar sobre o mar,
muito menos posso questionar sua autoridade para acalmar uma tempestade
como registra outros relatos. Sendo assim esse argumento é herético,
antibíblico. Eis aí uma raiz da eisegese.
Conclusão
Concluo lembrando que deve o exegeta possuir qualidades espirituais,
principalmente o temor e a reverencia ao Espírito Santo em seu
ministério de ensino e exposição bíblica. O homem espiritual, segundo
Paulo, é o crente que tem capacidade de julgar, de discernir, de
compreender todas as verdades espirituais. O crente maduro sabe se
comportar frente aos desafios que a interpretação bíblica requer.
Deve ser cheio do Espírito, isso significa ter uma vida de comunhão e
intimidade com Deus. Para conhecer profundamente o significado da
Bíblia, o intérprete deve entender que o conhecimento adquirido pelo
estudo tem como base a ação do Espírito Santo na vida daqueles que
buscam crescimento. A carência de sensibilidade com o Espírito Santo
incapacita o exegeta para captar com profundidade o significado das
passagens bíblicas.
O hermeneuta reconhece o valor das línguas sagradas. Sabe que uma
consistente extração da verdade depende, a certo ponto, do conhecimento
das línguas bíblicas. Por isso se dedique ao conhecimento do grego e
hebraico bíblico. Além das línguas originais também da história dos
povos bíblicos, da geografia palestina, arqueologia do Oriente Médio,
etc.
Enfim, a interpretação bíblica perfeita é feita por um conjunto de
regras e princípios, conduta, espiritualidade, e ação de Deus na vida do
leitor. Contudo, a melhor interpretação é aquela cujo efeito edifica e
desperta vidas com o poder de Palavra, e leva pessoas à Cristo para a
experiência da salvação.
Por Alex Belmonte