Porque desisti de ser evangélico

terça-feira, 31 de agosto de 2010




Desisti de ser evangélico porque o discurso da referida religião é calcado antes no NÃO do que no SIM, cerceando a liberdade humana até nada mais restar senão uma vida não marcada, mas infectada por uma religiosidade doentia e alienante.






Desisti de ser evangélico porque as massas crentes se movimentam para “marchar para Jesus”, quando, na verdade, os tais movimentos com este nome tem somente o objetivo demagogo de favorecer lideranças corruptas e angariar votos para políticos incapazes que não governam para o povo, mas para suas placas denominacionais, para seus interesses regionais escusos.





Desisti de ser evangélico porque a mentalidade evangélica é restrita, seu raciocínio é defeituoso, sua moral é ultraconservadora e míope, favorecendo criminosos, não se escandalizando com os exagerados apelos financeiros, mas excluindo e condenando aqueles que tropeçam nos caminhos da vida pela simples razão de serem humanos.





Desisti de ser evangélico porque a fé é descrita em termos intelectuais e antiintelctuais de uma só vez. A cultura, como um todo, é condenada e descrita como profana, mas os conteúdos daquilo que os crentes entendem como sendo o “conhecimento salvador” baseiam-se não num encontro com Cristo, mas no absorver e aceitar passivamente elementos contraditórios, sob o risco de, ao questionar ou raciocinar, ser condenado ao inferno.





Desisti de ser evangélico porque, de uma só vez, os crentes declaram ser Deus o Criador do Mundo e, num outro momento; afirmam ser o diabo seu atual regente. E, ao fazerem isso, fazem da suposta rebelião no céu do lendário anjo perfeito, vitoriosa na Terra.





Desisti de ser evangélico porque é justamente este movimento que tem sacralizado o dinheiro, afirmando que podemos possuir quanto quisermos do vil metal sem incorrer em pecado. É este movimento que julga pessoas por seus triunfos financeiros, atribuindo as riquezas a Deus, fazendo do Criador um banqueiro ou até mesmo um agiota, colocando na boca do Cristo as palavras do diabo “tudo isso (poder, glória e dinheiro) se, prostrado, me adorares”. Dessa forma, criam um outro evangelho, negando o que é natural pelo que é artificial.





Desisti de ser evangélico porque, como disse acima, o amor que o dinheiro gera em nós, as prioridades que ele cria em sua ausência ou presença, é raiz de toda dor e maldade. A igreja, ícone máximo do capitalismo selvagem, massacra o mundo e se alia ao sistema que crucificou o Cristo, incorrendo assim no mesmo pecado dos líderes judeus e romanos, tornando-se participantes no mesmo crime e ainda pior, pois usurpam o Nome Daquele que deveria ser seu Amigo Maior.





Desisti de ser evangélico porque a ditadura, essa praga que tantos destruiu e matou no Brasil e no mundo, continua viva no seio das igrejas evangélicas. Os pastores e líderes em geral, cercam-se do título de “ungidos” para evitar questionamentos. Atribuindo a si mesmos um poder sobrenatural, postam-se como interpretes máximos das Escrituras, impondo suas visões sobre os homens e atribuindo aqueles que não aceitam aposentar seus cérebros os títulos de “hereges”, de “falsos profetas”; retornando assim aos tempos sombrios que antecederam a Reforma.





Desisti de ser evangélico porque ela se tornou reduto de artistas sem talento, fracassados, que, sem público, encontram nas fileiras de crentes pelo Brasil um público ávido pelo consumo e completamente desprovido de senso crítico.





Desisti de ser evangélico porque o exclusivismo evangélico é radicalmente diferente do exclusivismo de Jesus Cristo. Enquanto o autor do Quarto Evangelho afirma que o Logos é a “luz verdadeira que ilumina todo homem que vem ao mundo” e, outra vez, diz “Nele estava à vida e a vida era a luz dos homens”. Toda vida, é vida de Deus.Toda Verdade, é verdade de Cristo, seja ela qual for, abranja ou se manifeste ela onde for.Os arraiais evangélicos engaiolaram a verdade e, ao fazer assim, ficaram sem ela.





Desisti de ser evangélico porque há muito tempo, os pastores deixaram de alimentar ovelhas para entreter bodes, como disse Charles Spurgeon, o príncipe dos pregadores.





Desisti de ser evangélico porque, embora se afirmem cristãos, Jesus Cristo é a figura menos pregada e lembrada em seus cultos e programas. Eu desafio os questionadores: ligue o rádio, vá a um culto em qualquer igreja neste domingo. Os nomes e campanhas giram todos em torno dos nomes de Davi, Gideão,Salomão; homens cujas vitórias podem inspirar ou encorajar aqueles que, enganados pela doutrina da prosperidade, esperam apenas os triunfos deste mundo. Os evangélicos têm vergonha e envergonham o Nome de Cristo.





Desisti de ser evangélico porque eles não estão interessados nos textos bíblicos, em suas verdades ou em sua sabedoria, ainda que a rotulem de “Palavra de Deus”. Este título tem, na verdade, o intuito de fazer dela regra inflexível mas distorcida ao bel prazer de seus líderes. Incapazes de torná-la atraente, já que ela não é nem ao menos para eles, mercadejam a palavra, encapando-a e materiais de luxo, torcendo-a para fazê-la ajustar aos seus temas, sejam eles os mais absurdos. Temos Bíblias para mulheres, para adolescentes, com dicas de saúde, sobre batalha espiritual e vitória financeira, etc. O conteúdo não importa. Importa vender.





Desisti de ser evangélico porque, embora se afirmem irmãs, as igrejas amontoam-se nas rádios e ruas, às vezes parede a parede, dizendo-se todas pregadoras do evangelho. Já faz muito tempo que o evangelho é “anunciado” de crente para crente. Lembro-me de participar certa feita de um batismo em certa igreja onde dez pessoas desceram as águas, enquanto mais de cem novos membros eram recebidos:todos de outras igrejas. Não obstante, a ética apostólica era outra, esforçando-se em anunciar Cristo onde Seu Nome não fosse ainda anunciado, afim de não edificar sobre fundamento alheio. Romanos 15:20-21.





Desisti de ser evangélico porque a igreja evangélica é irrelevante em termos sociais. Não vemos movimentos evangélicos por reformas, por justiça. No entanto, os líderes e crentes gostam de afirmarem-se trabalhadores incansáveis nas cadeias, nos asilos, incapazes de fazer uma avaliação crítica de seu trabalho, não contando cabeças como gado, mas verificando quantos tem, de fato, absorvido os valores do Reino. Embora a igreja devesse ser o “sal da terra”, tem crescido juntamente com o aumento da criminalidade e da violência. E da impunidade.





Desisti de ser evangélico porque o amor é tema raro nos cultos e na prática. Quando deixei o ministério Renascer, os amigos todos que tinha deixaram-me de lado, ignorando completamente as razões de minha saída, os sofrimentos pelos quais passava. Importa aos grupos evangélicos garantir seu poderio, por isso os hereges são acusados de satanismo, manipulação, imoralidade. Fui vítima, sei como é. O amor de um evangélico é determinado por aqueles que ditam as regras de sua norma salvadora. Os que estão fora de seu “círculo santo” são imundos.





Desisti de ser evangélico porque os primeiros cristãos morreram em nome de Cristo, mas hoje, néscios têm estado prontos para morrer em nome de organizações, de líderes corruptos, como se, por acaso, Jesus esperasse isso deles. JESUS NÃO EDIFICOU UMA ORGANIZAÇÃO COM NORMAS E “VISÕES”. MAS UMA ORGANIZAÇÃO, SUPOSTAMENTE FUNDADA PELOS DEUSES FOI RESPONSÁVEL POR SUA MORTE.





Desisti de ser evangélico porque toda arte produzida por não crentes é tratada como demoníaca, negando a própria doutrina evangélica que diz ser o homem Imagem de Deus. Isso por que a arte, toda arte, estimula a mente, irriga o coração, fortalece o senso crítico. Mas, na verdade, essa não á a razão maior ainda. Ao convencer pessoas de que a “música do mundo” é demoníaca, sobra espaço (e dinheiro) para os medíocres artistas evangélicos lançarem suas produções baratas todo ano. O mesmo se diz dos livros, todos de péssima qualidade.





Desisti de ser evangélico porque Deus louvou sua criação a cada momento, deliciando-se no que produzia, afirmando ser bom, mas as mentes cauterizadas dos crentes dividem o mundo entre “de Deus” e “do diabo”, negando que “do Senhor é a Terra e toda Sua plenitude”. Salmo 24:1.





Desisti de ser evangélico porque os crentes são assexuados. “O sexo é uma benção”, dizem alguns, para depois emendar: “dentro do casamento”. Sendo assim, negam a primeira afirmativa, fazendo do prazer, da libido, concessão e não dom. Os crentes temem o poder do sexo, por isso militam contra a natureza, inventando doutrinas e atando fardos sobre os ombros dos homens que nem eles nem seus pais foram capazes de carregar. Fazem do sexo uma desgraça e uma vergonha, deixando de lado textos como Gênesis 24:67 que, longe de atribuir normas ao prazer, o recebe e celebra não só como prazer mas como consolo. A fobia sexual dos crentes faz com que os “pecados sexuais” tenha maior peso do que todos os outros.





Jovens são, em pleno século vinte um, envergonhados e excluídos de suas igrejas e afazeres por conta de uma interpretação duvidosa do que seria a palavra “fornicação”. Um exemplo prático:o pregador Caio Fábio era incensado pelos crentes do país inteiro, até cometer adultério. Ainda hoje, Caio é tratado como “caído”, enquanto o Bispo Macedo, que foi preso e filmado em situações constrangedoras e comprometedoras é celebrado como santo e homem de Deus, e sua empresa é chamada de igreja, até pelos oponentes.





Desisti de ser evangélico para garantir a salvação de minha alma, não de um inferno eterno e sem esperança, invenção de homens fraudulentos, mas de uma vida indigna dAquele que aceitou a morte de cruz por mim e por cada homem.





Alex Rodrigues Ferreira

Jovens para escrever uma nova história

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Onde estão os valores da igreja primitiva?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010





Ao ler o relato bíblico a respeito da igreja primitiva, principalmente a estabelecida em Jerusalém, conforme Atos capítulo 2 versículos 42 a 47, verifico uma enorme diferença com igreja atual. A prática genuína da comunhão era efetiva entre os primeiros cristãos.
A história da igreja começou no pátio do templo em Jerusalém. Depois que Cristo foi elevado aos céus, seus discípulos e mais quinhentas pessoas voltaram para Jerusalém e começaram a se reunir no pátio do templo para esperar a promessa dada por Cristo a respeito do Espírito Santo (Atos 1:5).
Dez dias depois, na festa do dia de Pentecostes (50 dias após a páscoa), o Espírito Santo desceu sobre a igreja, naquele momento com 120 fiéis. Após o movimento promovido pela ação do Espírito Santo, Pedro tomou a palavra e fez um dos mais notórios sermões de todos os tempos. Foi a primeira mensagem evangelística genuína que levou cerca de três mil pessoas ao arrependimento e a confissão da nova fé cristã.
Imediatamente, Lucas o autor do livro, faz uma rápida narração do comportamento da igreja. Nele verificamos alguns valores essenciais:
(1) Poder do Espírito Santo (Atos 2:1-13)
(2) Pregação cristocêntrica (2:14-36)
(3) Conversão (2:37-40)
(4) Batismo (2:41)
(5) Comunhão (2:42-47)
a. Mantinham orientação doutrinária
b. Comiam e oravam juntos
c. Agiam com temor e respeito pela liderança
d. Produziam milagres e sinais
e. Estavam juntos e tinham as coisas em comum
f. Vendiam seus bens e repartiam entre si
g. Adoravam juntos no templo
h. Comiam o pão em casa
i. Mantinham a alegria e simplicidade
j. Caiam na graça do povo
(6) Conversão (2:48). (Se voltar ao passo 4, verifica-se um ciclo virtuoso de crescimento da igreja).
É tão rica prática da igreja primitiva que tem sido objeto de estudos, pregações, artigos, etc, ao longo desses dois mil anos. Aqui quero me concentrar numa comparação entre a prática religiosa atual, a respeito da visão da prosperidade e da posse de bens, em confronto com a liberalidade dos primeiros cristãos.
Primeiramente, a perspectiva da igreja primitiva era que Jesus voltaria em breve. Esse é um discurso firme nos escritos neo-testamentários. Embora Jesus tenha esclarecido aos seus discípulos que as decisões a respeito do futuro de Israel não lhes competiam (Atos 1:6), o desejo de que o Messias se revelasse novamente era grande e essa visão gerou um grande desprendimento na comunidade cristã de Jerusalém.
Por outro lado, não sabiam os judeus conversos que em breve eclodiria uma forte perseguição por parte da religião oficial. Isso quer dizer que se prática liberal da igreja não houvesse sido levada a efeito espontaneamente, os novos cristãos teriam que deixar suas propriedades e fugir ou ficar e enfrentar a fúria dos sacerdotes judeus, o que poderia significar a morte.
O certo é que o exemplo de liberalidade da igreja tornou-se um grande incômodo para a prática religiosa atual. Alguns cristãos não gostam de ler essa porção bíblica ou a lêem apresentando mil justificativas.
Como conciliar o discurso moderno da prosperidade e do apego aos bens com o desprendimento dos primeiros cristãos aos bens materiais? Não pode ser esquecido que muitas pessoas ricas seguiram Jesus e, por certo, consentiram com a transferência de suas riquezas para pessoas mais pobres, numa prática sem precedentes na história da humanidade.
Como aplicar o exemplo da igreja de Jerusalém aos nossos dias? Talvez alguém argumente que a narrativa bíblica não deve ser interpretada isoladamente, devendo ser julgada pela moral e pelos valores cristãos da Bíblia. Se fizermos isso, chegaremos à conclusão que a prática primitiva é aprovada pela doutrina paulina, de Pedro e de Tiago. Talvez alguém argumente que essa prática levou a igreja em Jerusalém à pobreza a ponto de ter sido necessária a ajuda de outras igrejas. Mas, a pobreza da igreja decorreu da perseguição dos líderes judeus; ela ocorreria de qualquer forma.
A verdade é que o relato de Atos é uma pedra no sapato dos pregadores da prosperidade. Daqueles que advogam a idéia de que Deus quer trocar fidelidade por dinheiro. Daqueles que criam práticas panteístas para trazer boa vida aos seus membros.
Não sou contra a prosperidade. Acredito que Deus abençoa o homem em todos os aspectos da vida, inclusive o financeiro. Não defendo que você deva obrigatoriamente vender seus bens e dividir o resultado com seus irmãos, até porque o contexto de Atos mostra que essa prática deveria ser espontânea (ver Atos 5). Mas, acredito que a pregação interesseira, a defesa da riqueza com um valor essencial para ser considerado abençoado, chegou a um limite insustentável. Fico pensando até quando Deus vai permitir isso.
Os cristãos primitivos poderiam ter se recusado a agir com liberalidade para com seus irmãos. Poderiam ter preferido a “lei de mercado”, na qual quem tem muito compra muito, quem tem pouco compra pouco e quem não tem nada... Ao contrário, preferiram compartilhar seus bens com os irmãos numa demonstração sem precedentes de comunhão e de desprendimento.
Que essa seja uma lição para nossa vida

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